terça-feira, março 15, 2022

Paulo Vaz - Popo Vaz



De há uns tempos a esta parte, tenho seguido uma velha máxima, que me inspira a ser mais empático e a colocar-me na posição do outro. Portanto, se não tenho nada de positivo a dizer, ou que acrescente alguma mudança significativa na vida dos outros, fico calado. A crítica pela crítica, não interessa a ninguém, e também ninguém quer saber o que pensamos ou deixamos de pensar sobre determinada atitude ou ação - se ela não nos disser respeito. Não há necessidade de humilhar ou de rebaixar. Se nós não conseguimos resolver a nossa vida, como é que vamos resolver a dos demais? 

As redes sociais (e também os blogues) são ferramentas fenomenais para a nossa interação com os outros, mas também podem ser instrumentos horríveis, que podem provocar danos em pessoas, que aparentemente julgávamos psicologicamente e emocionalmente, fortes. O facto, é que nunca sabemos o que se passa efetivamente com toda a gente, e atrás dos sorrisos e dos disparates quotidianos, pode estar uma desilusão enorme com a vida. Eu imagino, se o meu perfil pessoal do Instagram, que tem mil e poucas pessoas, recebe algumas mensagens de ódio, alguns contactos para me diminuir enquanto pessoa, ou até mesmo para me dizerem que eu sou feio ou tenho um corpo horrível, o que acontecerá àqueles utilizadores que colecionam milhares (ou milhões) de seguidores. Gerir este feedback negativo tem muito que se lhe diga, não é para qualquer um, e exige um arcabouço emocional bem estruturado e sólido. 

Um dos assuntos do momento, é a morte de um homem transsexual e influenciador brasileiro. Ainda não se sabe muito bem os contornos da tragédia, mas há algo inegável: o Paulo Vaz, ou popo_vaz como era conhecido no Instagram, suicidou-se. Existe um imenso burburinho pelos confins da Internet, procurando justificações para o ato. Há quem diga que foi consequência do estado depressivo intermitente que apresentava, ou da profissão de desgaste que tinha (era polícia), ou ainda, porque não aguentou a pressão da publicação (por engano?) de um vídeo íntimo do marido (@hmcpedro), na sua conta oficial de Instagram, com um homem cisgénero neste fim-de-semana que passou. 

A verdade, é que nunca saberemos. Aliás, aquilo que é do conhecimento geral, que toda a gente sabe, e toda a gente viu e leu, foi um ataque generalizado de LGBTI+ no Twitter do Paulo, diminuindo-o enquanto homem trans e como ser humano. Escreveram-se coisas horríveis sem necessidade nenhuma. Digitaram-se barbaridades sem empatia, como se o julgamento de terceiros fosse uma sentença real e legítima. Como se as pessoas tivessem direito de opinar e exigir justificações de um relacionamento do qual não fazem parte. E não é porque ele e o marido mantinham uma relação aberta, que isso dá o direito de dizer o que quer que seja. Não conhecemos os contornos, e não temos que os conhecer. Não somos parte integrante de nada, e como tal, aquilo que “achamos”, “consideramos” ou “criticamos”, apenas nos vincula a nós, e deve ser guardado para nós, porque nós não estamos “lá”

E não é de agora que o digo. Aquilo que escrevemos, e comentamos por essa Internet fora, vincula-nos. Exige-nos responsabilidade. Obriga-nos a pensar na necessidade de formalizar um determinado pensamento. Se valerá a pena, ou não, avançar com uma opinião ou consideração, se isso provocar um qualquer dano. Antes de tudo, temos que nos colocar na pele da outra pessoa. De sentir o que o outro sente, de dar a mão e puxar, ao invés de empurrar pela ravina. Hoje é um dia muito triste, não só porque alguém decidiu terminar com a sua vida, mas principalmente, porque imensas pessoas não se souberam comportar adequadamente. 

8 comentários:

  1. De facto, há muitos seres humanos que mostram a educação que receberam em casa. Nas redes sociais, junta-se um grupo e cá vai disto, se for numa página recordo-me da Pipoca de como foi tratada por vezes. Aqui tenho menos, mas como não tenho visibilidade não sinto tanto, e eu penso tantas vezes, nao gosto, não volto lolololol

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    1. Acho que não há necessidade de tanto ódio. Por detrás de um ecrã são todos uns heróis e depois ao vivo nem piam. Este mundo precisa de uma mudança digital. Precisa de uma cultura de respeito no online e acima de tudo, precisa de muita empatia.

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  2. Totalmente de acordo contigo, mas é mais fácil deitar abaixo do que ajudar

    Infelizmente

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  3. Foi uma tristeza enorme. Obrigado pelo texto, que mais pessoas tenham responsabilidade em suas ações na internet. Abraço grande.

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    1. Verdade. Tudo muito triste :( Obrigado pelo comentário Fabio. Um abraço grande também!

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