No seguimento da minha publicação anterior, talvez este episódio histórico que hoje trago, nos consiga explicar o porquê, de algumas pessoas considerarem ainda nos dias de hoje, que a orientação sexual é algo passível de ser utilizado como fator de chantagem, ameaça ou a diminuição do valor de uma pessoa.
Estávamos no ano de 1902, e em Londres, decorria a coroação de Eduardo VII. Presente neste acontecimento real, e integrado na comitiva imperial Austro-Húngara, estava o príncipe Francisco José de Bragança, segundo filho do pretendente miguelista ao trono de Portugal, Miguel Januário de Bragança (filho de D. Miguel), e da sua primeira esposa, a princesa Isabel de Thurn e Taxis, exilados em Viena.
Contudo, esta visita de Estado, ficou marcada por um escândalo sexual envolvendo Francisco, então com 22 anos. Num bordel frequentado por marinheiros, em Lambeth, Inglaterra, o príncipe foi apanhado na companhia de dois rapazes, um de 15, outro de 17 anos, pela polícia inglesa, resultado de uma denúncia do proprietário do espaço – um intermediário de 24 anos – que afirmou que os teria observado em pleno ato sexual pela fechadura da porta.
Julgado pelo tribunal de Southwork, em Londres, o príncipe foi absolvido pelo júri de Old Bailey, uma vez que a prova foi insuficiente. Pelo contrário, os seus acusadores, foram condenados por se ter considerando que se tratava de um esquema de extorsão – que os mesmos confessaram. A sentença acabou em dois anos de prisão para o dono do bordel, e dez e oito meses, para os rapazes envolvidos.
Esta situação não pode ser dissociada do clima da época, onde as mudanças na lei de Inglaterra de 1885 (que vigorou até 1956), e que criminalizavam fortemente qualquer forma de sexo homossexual, levaram a uma onda generalizada de armadilhas e posterior chantagem de homens gays - que eram apanhados em pleno ato por um homem que lhes exigia dinheiro, sob pena de terem a sua reputação ou carreira destruída, ou num caso extremo, sentenciados a uma pena de prisão.
Independentemente do desfecho judicial, o escândalo já tinha chegado a Viena, e o Imperador Francisco José, privou o jovem príncipe dos seus direitos cívicos (ficou sob a tutela do seu cunhado), tendo-o obrigado ainda, a demitir-se do posto de tenente do Regimento do Exército de Hussardos Imperial.
Alguns meses depois, Francisco José de Bragança, deixou a Europa, sob o título de Conde de Nieve, e viajou até Sidney - onde cumpriu um breve exílio colonial.
Fontes:
Trial of Prince Francis Joseph of Braganza, Henry Chandler, William Gerry, Charles Sherman, Proceedings of the Old Bailey, September 1902.
Du similisexualisme dans les armées et de la prostitution homosexuelle (militaire et civile) à la Belle Époque, de Edward I. Prime-Stevenson.
Boa tarde. Peço desculpa por invadir o seu espaço, no entanto, tenho ideia (sem ter a certeza) que as datas para a descriminalização do homossexualismo no Reino Unido, são a de 1967 para Inglaterra e Gales, 1980 para a Escócia e 1982 para a Irlanda do Norte.
ResponderEliminarAinda assim, temo que sejam datas indecentemente tardias, até mesmo desumanas, para um país como o Reino Unido, que sempre se arrogou a primazia na defesa dos direitos humanos e o direito à vida das minorias, desde que não atentem contra os direitos institucionalizados.
Peço desculpa pela intromissão, e não me parece necessário que publique este comentário.
Cumprimentos
Manel
Não teria como não publicar, até porque efetivamente a data não está correta. O enquadramento legal, em que suportou a acusação é a Secção 11, do "British Criminal Law Amendment Act", de 1885, que vigorou até 1956.
EliminarObrigado pela informação, que já está corrigida no texto.
Ainda assim, concordo consigo. A questão demorou muito tempo no Reino Unido a ser "desmantelada". Veja-se o caso absurdo de Alan Turing. Contudo, o mundo está em constante evolução, e embora certos países e partes do mundo ainda vivam no obscurantismo, já se deram muitos passos positivos em direção à igualdade plena de direitos. Esperemos que não se recue.
Um abraço e mais uma vez obrigado.
Obrigado pela partilha, mas continua a ser tão actual nos nossos dias :S
ResponderEliminarParece que o tempo passa, passa, e tudo se repete.
EliminarEstou a ver que a herança corre no sangue Bragança ;)
ResponderEliminarÉ agora que pergunto: o que queres dizer com isso? LOL
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