domingo, fevereiro 20, 2022

Passados - Blogues



Estava a ler a publicação d'A Gaja, chamada "Dar corda a palhaços", na sua página de Facebook, quando estacionei neste ponto do texto: 


(...) A primeira coisa que ele disse aos amigos, ainda nem sequer namorávamos, foi "ando com A Gaja". Não a Raquel. A Gaja (como se, na escala real das coisas, eu fosse alguém). Aquela pessoa era tão patética que achava que ia conseguir sabe-se lá o que através de mim. (...) 


Não concordo sempre com aquilo que a Raquel escreve, mas de vez em quando, os nossos santos lá se conjugam e as coisas tocam-se. E estas palavras, fizeram despertar em mim, muitas coisas do passado. 

No meu antigo projeto bloguístico, na sua fase já fim de vida, as visitas diárias batiam quase sempre as três mil. Tornou-se um pouco assustador. Era algo estranho na verdade, quando o objetivo sempre foi divertir-me e desabafar, assim sem grandes compromissos. Sem grandes necessidades de nada, mas que mais tarde, a exigência, ainda que camuflada, de justificar muita coisa, tenha surgido. Com tanta exposição, acabei por ficar acobardado com a cena, e em parte, devido a algumas abordagens que tive. Sim, porque nem sempre foram as mais desprendidas, sinceras ou simpáticas. A verdade, é que é perfeitamente natural (e até compreensível), que as pessoas queiram saber quem é que escreve o quê. Quem é o autor daquelas coisinhas parvas e dramáticas, com que às vezes até nos conseguimos identificar. E de certa maneira, eu também gosto de saber quem é que lê. Quem é que concorda ou discorda, quem vibra ou quem simplesmente acha pateta isto ou aquilo. 

Recebi centenas de mensagens durante o tempo que o blogue existiu. Número esse, que duplicou com as minhas respostas, e portanto dá para ter a noção que isto quase se tornou num full time job. Embora sem remuneração acrescida. Recebi elogios, comentários apenas a dizer que tinham passado pelo mesmo, palavras para dar ideias de assuntos a desenvolver em publicações futuras e muitas mensagens de conforto e de carinho. Também recebi alguns contactos, para tentar saber quem era a personagem na vida real, algumas tentativas de me sacar o meu perfil de Facebook ou Linkedin (nem sei bem para quê, porque não se passa nada de extraordinário por lá) e alguns convites para cafés e encontros. Também tive algumas abordagens que me magoaram, mas que nunca deixei de responder (o agressor não pode ter esse poder sobre nós), alguns insultos e algumas mensagens codificadas, que apesar de anónimas, só poderiam ser de alguém que me conhecia, tendo em conta o detalhe das mesmas. 

Nisto tudo, ainda tive tempo para receber textos animadores como "tens uma vida inventada, e o que escreves não pode ser real", ou "devias gastar o teu dinheiro assim ou assado, considerando todas as pessoas que passam fome", ou até mesmo, pessoas que só falavam comigo porque eu era O TAL GAJO QUE ESCREVIA O BLOGUE. Era como se eu fosse alguma pessoa famosa, dessas que aparecem na Televisão e têm fãs. Era como se eu, o gajo mais comum e anónimo que poderia existir à face da terra, tivesse alguma importância só porque escrevia um blogue mais ou menos interessante. E depois, tinha pessoas com quem até gostaria de ter tido cimentado uma amizade, que me deixaram de falar, porque deixei de escrever. Ou porque queriam que namorasse com elas (WTF?), porque já tinham muitos amigos na vida real. Pessoas, que me bloquearam nas redes sociais (quando elas é que me adicionaram) só porque acharam que eu tinha uma qualquer obrigação com elas - que não tinha. Não sei. Tudo muito estranho, considerando a virtualidade da coisa.  

10 comentários:

  1. Concordo com tudo o que escreveste , sem tenho nada a acrescentar, apenas para dizer que passei aqui e gostei

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  2. LOLOLOL Já dei para esse peditório e se soubesse o que sei hoje, tanta coisa teria sido diferente lolololololololol

    Para a frente é que é caminho

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  3. Lembro-me bem do antigo blog... da dimensão que tomou e depois... puf...
    Eu nunca tive esse problema. E que me lembre, nem um insultozinho...

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    1. Sim, aquilo ganhou vida própria e já era maior do que eu.

      Eu lembro-me (que já sou velho ahahah), que pelo menos foste "descoberto" por quem não querias :P Acho que foi por causa de um calendário :P

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    2. Pois foi... e durante uns tempos o blogue só esteve acessível por guest list!

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  4. Passei por isso: convites para isto e aquilo, tentativas de engate, comentários ofensivos, mas nunca pensei, até hoje, abandonar o blogue (não lhe chamaria “projecto” no meu caso). Existirá enquanto me faça sentido.

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    1. Foi um projeto, porque foi um "projeto" de vida naquela altura. Depois deixou de fazer sentido, considerando a sua dimensão, a perda de anonimato e outras coisas mais chatas. Mas é como escreves "até fazer sentido".

      Devia de existir um manual para lidar com comentários AHAHAH

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