Estes dias exigem de nós, mais militância, mais rigor, mais empatia e alguma serenidade (que teimo em não conseguir adquirir). Portanto, não abandonei o blogue. Não fugi. Não tive medo do confronto. Apenas estive noutras plataformas a discutir o assunto do momento. Ou seja, a situação da Ucrânia.
Não sou um tipo de pessoa de deixar de responder aos comentários, que me deixam aqui de uma forma gentil (mesmo os outros, não os deixo pendurados), portanto, não iria deixar passar a oportunidade de o fazer em relação à minha publicação anterior - onde apenas autorizei a sua publicação. Contudo, o que poderia ter sido respondido de uma forma imediata, levou algum tempo a elaborar, e aquilo que poderia ser apenas algumas palavras, acabou por se transformar num longo texto que aqui publico em forma de crónica explicativa do meu entendimento do assunto.
Em relação à posição oficial do Partido Comunista Português (PCP), não fiquei 100% surpreendido, tendo em conta as suas posições passadas. Fiquei sim, admirado e estupefacto com as justificações dadas. Na sua nota do Gabinete de Imprensa, de 24 de fevereiro de 2022, podemos ler:
“O PCP salienta que o agravamento da situação é indissociável da perigosa estratégia de tensão e confrontação promovida pelos EUA, a NATO e a UE contra a Rússia, que passa pelo contínuo alargamento da NATO e o reforço do seu dispositivo militar ofensivo junto às fronteiras daquele país, e em que insere a instrumentalização da Ucrânia, desde o golpe de estado de 2014, com o recurso a grupos fascistas, e que levou à imposição de um regime xenófobo e belicista, cuja violenta acção é responsável pelo agravamento de fracturas e divisões naquele país”.
Ou seja, a culpa da invasão da Ucrânia é dos EUA, da NATO e da UE. Se formos a ver bem a coisa, os russos até estão a fazer um favor. Critica-se Israel, a intervenção no Iraque, Síria e Afeganistão, mas se a Rússia invadir um estado independente e soberano – que até reconhece como tal – a culpa é dos outros. Se a estratégia expansionista da Federação Russa, que decalca as ideias de Putin em construir uma nova Pátria-Mãe, se basear na premissa de que a culpa é “EUA, da NATO e da EU”, então está tudo legitimado. Está tudo bem. O facto da Ucrânia ter as suas próprias ideias de adesão à NATO e/ou à UE, é que não pode ser. Mesmo que isso reflita a vontade da maioria dos cidadãos daquele país, não pode. E não pode, porque isso vai ferir os sentimentos de Putin, e pelos vistos, dos Comunistas Portugueses.
Como se isso não bastasse, o Governo da Ucrânia democraticamente eleito, como não está alinhado com Moscovo, é fascista, xenófobo e belicista. Ou seja, o regime de Putin, não é xenófobo, não persegue minorias como as LGBTI+, nem invadiu a Ucrânia com quase tudo o que tinha. Se formos a ver bem, apenas levou canhões de purpurinas e irá gritar algures no tempo e espaço "olá, sou a tua menstruação". A somar a esta adjetivação "à portuguesa", o Presidente russo afirmou ainda, que o Governo de Zelensky era um “gangue de viciados em drogas e neonazistas”, sendo que há quem diga que queria acrescentar “paneleiros”.
Ainda na mesma nota, e numa tentativa de demarcação da posição Russa, o PCP sublinha:
“A Rússia é um país capitalista, cujo posicionamento é determinado, no essencial, pelos interesses das suas elites e detentores dos seus grupos económicos, com uma concepção de classe oposta à do PCP”.
Curiosamente, a única oposição tolerada na Rússia é a do Partido Comunista Russo.
Também neste dia, João Oliveira, deputado do PCP, no seu discurso no Parlamento Português, mencionou várias “coisinhas”, no estilo paternalista-ó-comunista a que estamos habituados, destacando-se:
1| “É hoje evidente que a situação que se vive na Ucrânia não é um problema entre russos e ucranianos nem apenas uma disputa por território ou demarcação de fronteiras”.
2| “É o problema da utilização da NATO como instrumento desses objectivos e o problema da subordinação da União Europeia à política belicista dos Estados Unidos e da NATO”.
3 |” Tal como não é expectável que a Rússia aceite que o mesmo resultado seja alcançado por via da acção do regime xenófobo e belicista instaurado na Ucrânia na sequência do golpe de Estado de 2014 e que envolveu o recurso a grupos fascistas e que nunca, até hoje, cumpriu os acordos de Minsk”.
Ou seja, para o PCP, a culpa será sempre dos outros, porque esta é uma intervenção justificada. Só aquelas promovidas pelos Estados Unidos é que são erradas. Porque a Rússia tem o direito de se defender, mesmo sem ser atacada, e mesmo que invada um país soberano - e aquela teoria que os cidadãos "russófilos" estavam a ser executados nas "auto denominadas Repúblicas Populares", tem muito o que se lhe diga.
Ainda sobre o tema, o PCP também tem na sua página oficial, um separador sobre a Ucrânia, onde se refere ao Presidente da Ucrânia, como “Zelensky (comediante e actual presidente). Só "isto", diz muito da posição deste partido político, sendo que esta ideia de “dossiê temático” é uma tentativa algo desesperada de justificar uma posição que ninguém compreende.
Portanto, não é de estranhar que sobre a guerra na Ucrânia, o PCP tenha sido o único partido português com assento parlamentar, que não condenou a invasão militar ordenada por Putin, conforme é comprovado pela análise de Fact-Checking elaborada pelo Polígrafo (LER AQUI). Na mesma linha de pensamento, na manifestação de ontem pela Paz na Ucrânia em Lisboa, o PCP optou por não participar. Foi o único partido parlamentar (o Chega não foi convidado) que não aderiu.
Com tantos "tiros nos pés", começamos a ver já muitos anticorpos em relação a este partido, onde já se lê (por exemplo) no Facebook: "seis deputados já são demais". Não sei se serão demais, mas se o PCP continuar assim, arrisca-se a perder a sua representação parlamentar em Portugal, à semelhança do que aconteceu com o CDS-PP.
Só não concordo quando comparam Putin a Hitler :) A Rússia sempre foi Comunista apesar do Comunismo e Fascismo são separados por uma linha muito ténue
ResponderEliminarSão iguais na essência.
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