Sou consumidor de Reality Shows. Assumo. Não os vejo sempre, porque nem sempre tenho tempo, sendo que também não os acompanho sempre, porque nem sempre tenho interesse. E há uns formatos que gosto mais, outros que gosto menos. É como tudo na vida. É saber lidar. Contudo, há um exercício no Big Brother Portugal, que sempre gerou curiosidade em mim. Isto é, como seria a minha atitude perante aquela partilha de emoções e de pedacinhos da minha história? Teria coragem de falar de tudo sem preconceitos? Ficaria retraído perante a ideia de ter milhões de pessoas a assistir? Até que ponto iria? Será que desabava a chorar? Sinceramente, não sei responder a estas perguntas, porque só passando pelas situações é que poderemos ter a noção das coisas. Do que sentimos, de como reagimos e de como conseguimos lidar com episódios nossos, que por vezes já tínhamos deixado esquecidos numa qualquer gaveta emocional.
Seja como for, resolvi assumir o risco e apliquei essa atividade em mim próprio. Sozinho. Fechei-me no meu mundo e comecei a desenhar a minha Curva da vida, com os episódios mais felizes, os mais tristes, e tudo aquilo que me marcou, e que a memória fez o favor de me gravar no meu corpo. Há coisas que voltaram a ter intensidade, outras que já se encontram apaziguadas e outras esquecidas… que afinal não estavam assim tão esquecidas - até porque elas estão sempre lá. Fazem parte de nós. São o nosso ADN sentimental.
Assim, apresento o resultado deste exercício solitário, destacando apenas três pontos positivos, e três pontos negativos - dentro de tudo o que tenho dentro de mim. Não serão os mais felizes, ou os mais graves, mas apenas, o que achei que teria sentido partilhar aqui.
1983: Nasceu o meu irmão. Uma das pessoas mais importantes para mim - mesmo que ele por vezes duvide disso. Sempre fomos muito unidos. Sempre fomos os melhores amigos. Até que um dia, tudo mudou. Talvez a adolescência nos tenha afastado, porque cada um teve que fazer as suas descobertas. Ter as suas conquistas e cometer os seus erros. Não sei. Só sei que quando estive no fundo do poço, foi ele quem me foi lá buscar. Foi ele que me levou ao hospital. Foi ele que esteve sempre lá para mim. E foi ele que me ajudou a lidar com tudo aquilo que eu não conseguia compreender e até aceitar. E se estou cá hoje, a ele o devo.
2003: Terminei o meu curso superior neste ano. Para mim, uma das maiores conquistas da minha vida. Não sei. Parece que tudo custa a acontecer comigo. Parece que tudo sai a ferros. Portanto, este ponto específico é muito valorizado. Concretizei o sonho profissional que tinha desde pequeno, e que nos dias de hoje é aquilo que me paga as contas. Se já pensei mudar de ramo? Claro. Quem nunca? Mas esta componente do meu percurso é a pedra basilar de tudo, e não a quero perder. Por isso é que muitas vezes sonho, que me telefonam a dizer que afinal não acabei o curso e que me falta uma disciplina. Não sei. Isto deverá querer dizer alguma coisa. Não eu não sei interpretar sonhos. Só comê-los.
2008: Aqui, comprei o meu primeiro carro. Algo que nunca pensei que iria fazer, mas que consegui com muito sacrifício (mesmo ganhando menos de 600€ por mês). Adorei aquele Ibiza desportivo de 3 portas. E se aquela viatura falasse... ui ui. Tantas histórias haveria para contar. Risadas. Choros. Discussões. Badalhoquices. Todos os meus namorados passaram por lá (AHAHAH). E não só namorados - cof cof cof.
Neste ano também, concretizei um dos sonhos da minha vida. Conheci Nova Iorque. Uma viagem toda paga por mim, mesmo tendo um ordenado da treta. Foram os 15 dias da minha vida, onde pude viver efetivamente como gostaria. E acima de tudo, gozar de uma liberdade que nunca tinha tido até então. Mas nem tudo foi bom. A minha avó faleceu, quando estava já no fim da viagem, e não consegui vir ao funeral. Por causa de partilhas de heranças, e de defesas estúpidas das atitudes indefensáveis do meu tio (e sua "muchacha" amestrada), tínhamo-nos afastado nos últimos anos… mas isso não apaga o facto de ela me ter criado desde pequeno.
2015: Partes deste ano, conseguiram marcar-me negativamente nos 365 dias do mesmo. E digo isso, porque comecei a ser perseguido no meu trabalho (pela Administração), coisa que até então, sempre imaginei impossível de acontecer. Nunca tinha dado importância à questão do assédio moral até esta altura. Não sabia bem o que era, até ver o meu trabalho todo ser escrutinado pela jurista do departamento à procura de falhas (que nunca as encontraram), e de ser convocado para reuniões com pessoas externas, e depois ficar lá sozinho a explicar decisões que eu nem sabia muito bem quais eram. A humilhação era uma constante e as faltas de respeito também. E tudo isto, porque fui apanhando numa conversa pessoal, já fora do local/hora de trabalho, onde nem sequer abri a boca para dizer o que quer que fosse. E só me apercebi do estado em que estava, quando num sábado, em convívio com amigas minhas, elas me perguntam como estava o trabalho, e eu, começo a chorar sem parar. A resistência a ir para o trabalho, e a desmotivação, afinal tinham significado.
2018: Não posso afirmar que foi o ano pior da minha vida até então, mas foi um dos piores. Aos 37 anos, pela Páscoa, tive um AIT. Fiquei paralisado, por alguns minutos, do meu lado direito e fiquei com a fala arrastada. Obviamente, que fui parar ao hospital nessa noite e fui transportado por um "tinonin". Nunca se descobriu a causa, mesmo tendo gasto imenso dinheiro em exames complementares. Foram muitas vezes, etapas que passei sozinho. Demasiadas vezes sozinho. Sozinho nos médicos. Sozinho no medo de ficar paralisado. Sozinho no sono que durante meses nunca foi regular. Posso dizer, que no resto deste ano, não dormi uma única noite seguida. Tinha sempre imensos pesadelos. Por vezes, chorava, e acordava muitas vezes com a sensação que estava a ter novamente outro ataque. Fiquei com uma dor permanente no braço direito, que demorou anos a passar e que me deixava por vezes limitado. Não vou mentir, e dizer que não pensei o pior. Pensei. Pensei que se morresse, talvez ninguém sentisse a minha falta. Senti aquelas cenas parvas, que sentimos quando passamos por situações idênticas a esta. Senti que estava farto e senti que não merecia. A verdade, é que ninguém merece, porque estes episódios acontecem (quase) sempre sem motivos de força maior.
2019: Estava eu ainda a reconstruir-me, quando recebo a notícia da morte do meu melhor amigo. Foi um soco no estômago. Um arrancar de algo dentro de mim, que ainda não sei bem o que foi. Sozinho na hora de almoço, quando soube, chorei no carro. De uma maneira descontrolada, quase infantil, porque não conseguia perceber o motivo. Porque ainda… não o consigo entender. Pelo mesmo motivo, chorei compulsivamente sozinho, no dia do enterro. Foi duro. Muito duro. Tínhamos a mesma idade, e fazíamos anos quase na mesma altura - tínhamos um dia de diferença. Não sei. Projetei-me naquela morte, como sendo a minha. Pensei em tudo e pensei em nada. E não sendo eu, uma pessoa que gosta de partilhar o que sente com os outros, vi-me novamente num caminho solitário que me atirou para uma pseudo-depressão, que me fazia arrastar da cama para o trabalho e para a minha vida quotidiana obrigatória. Tudo ameniza é um facto, mas o vazio não desaparece.
E agora, desafio-os a abrir a vossa cronologia e publicar a vossa Curva da vida, no vosso blogue. Quem sabe se não temos pontos em comum? Aliás, tenho a certeza que temos. Não falamos é disso. Porque se forem como eu, sentimentos é para guardar bem cá dentro, porque podem ser entendidos como uma qualquer fraqueza.
De facto, creio que nunca fui muito fã de reality shows, recordo-me do 1º Big Brother, e do Zé Maria, a mentalidade de um povo Azeiteira e Campónia que se escandalizou com a rapariga que disse que os homens eram como os iogurtes lolololol E o famoso pontape do Outro porque uma rapariga do norte disse "filho da puta" que não é nada. As Virgens e Castas de Lisboa UI UI UI foi o que se viu lolololol
ResponderEliminarPontos Comuns todos nós temos, daí o meu blogue dar a entender que eu ando sempre atirar indirectas. Tanta Carapuço a servir
Apenas te posso deixar um grande abraço de amizade e deixa-me pensar no teu desafio ;)
Obrigado pelas tuas palavras :) e não precisas de fazer algo muito elaborado AHAHAH :P
EliminarEntretanto já vi a tua resposta ao desafio. Muito obrigado pela participação :)
EliminarGostei da tua ideia. Sempre foste o blogger mais criativo. Lembro-me de todos os passatempos e de como eles dinamizavam a blogo. Enfim, quando não havia tantos ódios.
ResponderEliminarAceito o desafio, mas não sei fazer esses gráficos todos janotas. Tu tens imenso jeito com estas coisas!
Tenho mais algumas ideias em mente AHAHAHA Deixa-me acalmar os pensamentos :P Os ódios existem para serem desfeitos, porque tudo aquilo que não nos acrescenta, não serve para nós.
EliminarAcho bem que aceites :P Os gráficos não precisam de ser janotas, ou sequer de existir, o importante é mesmo partilhar pedacinhos de nós.:P
Não suporto Reality Show ... rs
ResponderEliminarAHAHAHAH mas acaba por ser um espelho da sociedade… :P
EliminarAmei sua curva de eventos de sua vida ... amei poder conhecer melhor o amigo. Vou tentar encarar este desafio. Tenho tentado incluir o seu blog no meu rol dos que sigo mas não consigo ... acho q a única forma de lembrar de vir conferir suas postagens será colocar seu link na aba de favoritos ... OMG!
ResponderEliminarIsso já está a dar muito trabalho :P Não sei se mereço tanto esforço :P
EliminarFicarei à espera da sua resposta ao desafio. De certeza que tem episódios de vida bem interessantes para contar :D
Por acaso também não consegui seguir-te. Seria tão imediato.
EliminarQuanto à ideia, é fixe e talvez faça a minha se me fizeres o gráfico bonitinho :-p
Não sei como é que isso se faz (do seguir) LOL E sobre o gráfico, sempre podemos negociar um preço AHAHAHAHA
EliminarAmei sua curva da vida. Não fosse eu um fã dos reality shows!
ResponderEliminarAi por "você", que chique. Não estou habituado :P
Eliminar