Também as minhas amizades LGBTI+ são reduzidas. Não sou aquele tipo de gajo que faz stories no Instagram com os 30 amigos gays. Não só porque não os tenho, mas também porque acho que é difícil trazer pessoas para a família que escolhemos, que valham a pena. A verdade, é que gosto de ter um núcleo de amigos pequeno, que seja fácil de gerir e que se complemente. Já fui demasiado traído por amizades no passado, a quem confiei a vida, para ser tudo assim tão simples. Com o tempo, tornei-me ainda mais desconfiado. Perdi e ganhei amigos, como é normal no percurso natural da vida. Uns foram porque se chatearam, outros porque não tiveram o que quiseram/precisavam, outros porque não souberam perdoar, e outros, simplesmente, porque que sim, porque o seu tempo tinha chegado ao fim. Tenho saudades de uns, de outros nem por isso. Dos meus amigos gays que ficaram, e que posso considerar grandes amigos, tenho dois que emigraram e um que só vejo uma vez por ano e mora quase ao meu lado (e que está sempre a arranjar desculpas para não nos encontrarmos).
Mas o meu melhor amigo, aquele que sabia quase tudo de mim, morreu faz dois anos. Isso tornou-me uma pessoa triste por dentro. Uma pessoa diferente. Uma pessoa que pensa muitas vezes, se alguma vez nos iremos encontrar de novo, noutra dimensão. É impossível esquecer uma perda desta magnitude, até porque estava colada à minha pele. Ao meu caminho de descoberta de quem eu era, e de quem eu sou, desde o tempo do mIRC. Desde o tempo que falávamos em salas de chat como a #gay, a #gaybetos ou a #bibetos. Desde o tempo, que os nossos nomes eram os nossos nicknames e não nos preocupávamos com aqueles que estavam registados oficialmente. Nunca tinha tido amigos gays até então, e ele foi o primeiro. O que teve paciência. A quem contei os meus segredos mais profundos. Aquele que não me julgou. Aquele que me estendeu a mão quando estava no fundo do poço e aquele que me motivava quando eu estava na merda. Podiam passar meses sem que nos falássemos, mas bastava uma troca de mensagens e parecia que tínhamos acabado de estar na parvoíce há 5 minutos atrás. Tenho saudades dos nossos jantares a dois no Bairro Alto, dos copos no Purex (onde eu já bêbedo fui ter com o segurança, e além de lhe ter dito que ele era giro, perguntei se era gay - e que não era), dos nossos dramas sentimentais, que compartilhávamos de forma a gerar empatia, e de tanta coisa que me preenchia, mas que de um momento para o outro... desapareceu. Apenas ficou um grande vazio. Fazer amigos nunca foi fácil para mim. Amigos gays muito menos. E tenho a noção, que este lugar que ele deixou, será insubstituível. Mas atenção: não sou uma pessoa amarga. Sou uma pessoa cada vez mais realista face aos sentimentos.
E posto isto, vou ali até um centro comercial da periferia de Lisboa, ajudar um outro amigo a comprar uma fatiota para o seu aniversário. Bom domingo!
Gostei muito deste post e revejo-me em muitas coisas que escreves e descreves
ResponderEliminarDeito te um abraço
Obrigado Francisco! <3
EliminarUm abraço
abraço forte Lobinho...
ResponderEliminar<3
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