segunda-feira, janeiro 31, 2022

Politiquices



Não queria voltar ao tema (até porque hoje em dia o que vende são pilinhas e rabinhos), mas como este blogue é meu, e para já, escrevo o que quero. Também como não pretendo ser a "Piroca mais Doce" da blogaysfera, estou-me um pouco a cagar para a linha editorial deste projeto. Nem sei se tem alguma, na verdade.  

Ontem, vivenciámos uma noite eleitoral única no nosso país. E foi... surpreendente. Em todos os níveis. E em todos os sentidos. Tivemos uma maioria absoluta inesperada e uma extrema-direita a querer sangue - seja ele de quem for. 

Assim, sobre o ato eleitoral legislativo que acabámos de passar, deixo apenas uns breves comentários sobre quem compõe a nova Assembleia da República Portuguesa:


Partido Socialista - O vencedor da noite. Obteve uma maioria absoluta, com a qual não estava a contar, e esperemos que a saiba honrar. Ganhou como ganhou, na minha opinião, essencialmente pelo medo da ideia de um governo do Partido Social Democrata (PSD) com o Chega - à semelhança do que se passou na região autónoma dos Açores. Isto arrastou muitos votos da esquerda para o PS, e alguns votos do PSD - que se melindraram com essa perspetiva. Também o facto, de se querer castigar os partidos à esquerda do PS, por terem chumbado a proposta de Orçamento de Estado, teve (muita) relevância. 

No que diz respeito à comunidade LGBTI+, não tenho dúvidas que teremos aqui um projeto tampão sobre a extrema-direita, mas que não vai durar para sempre.


Partido Social Democrata - Fracassou pela inabilidade de comunicar. Hoje era pelo estado social, amanhã já não era. Hoje queria privatizar a Segurança Social, amanhã já não queria. Hoje era sim, amanhã já era não, e essa mensagem errática afastou o eleitorado. Mas aquilo que eu acho que arrumou mesmo com o PSD, foi não ter dito, de uma forma inequívoca, que não iria fazer um governo com o Chega. Mas a fome por poder era tanta, que cometeram este pecado capital. E como tudo na vida tem um preço... Pagou por ele.

Sobre os direitos LGBTI+ (que na verdade são uma questão de igualdade de direitos), acho que este PSD será um pouco como a estratégia desta campanha. Hoje sim, amanhã talvez não.


Chega - Bom, é um partido que é contra minorias e contra a diferença. No fundo é contra tudo, mas que não sabe bem contra o quê. É um partido de ruído. De protesto. De maledicência. De ódio. E que capitalizou o voto de protesto da extrema esquerda (curioso, não é?) e dos envergonhados. De quem? Dos homofóbicos, dos racistas, dos extremistas, dos machistas, dos saudosistas da ditadura e de tudo o que a sociedade tem de mau. 

E relativamente à minoria LGBTI+, bom, se chegarem algum dia ao poder, é melhor fazer as malas.       


Iniciativa Liberal - Conseguiu capitalizar algum voto descontente da direita, e embora não tenha dados, acho que levou os votos do CDS. Teve votos dos descontentes, dos "perdidos" (politicamente falando), dos jovens (muitos) e de todos aqueles que acreditam que aquelas medidas são mesmo realistas (mas basta fazerem as contas, como dizia o outro, para perceberem que não batem certo), ou simplesmente porque gostam do design do material de campanha (que é genial, já agora). Contudo, teve ontem um bom momento, ao descolar-se (e muito) do Chega - coisa que o Rui Rio e o PSD nunca conseguiram (ou não quiseram) fazer, e com isso ganharam muitos votos. Dá para aprender alguma coisa aqui, PSD?  

Veremos o que defendem para a população LGBTI+, e mais do que isso, como se comportarão na votação na Assembleia da República, aquando da apresentação de diplomas relacionados com a causa.  


Coligação Democrática Unitária - Ainda acham que estão em 1965. Sobre este projeto, não tenho muito a comentar na verdade. Já sofri uma perseguição no trabalho por um executivo CDU, no qual só faltou um processo disciplinar - e por um assunto que não tinha nada a ver comigo, e de lá para cá, tudo me soa a fraude. Os trabalhadores blá bá blá, o capital blá blá blá e os direitos blá blá bá. Raios que os partam a todos. 

E sobre a questão LGBTI+ tem dias. Há dias que apetece, há dias que não. Tal e qual, como a questão da adoção e co adoção por casais do mesmo sexo - só para relembrar uma "coisinha"


Bloco de Esquerda - Quando se vai com demasiada sede ao pote... Algumas pessoas deste partido têm falta de humildade. De noção. E de realidade. Há matérias com as quais é fácil de concordar, mas depois há outras, que não lembra ao menino Jesus. E esta embirração de se querer ser oposição ao PS e derrubar o Governo, só porque se exige coisas do arco da velha, teve consequências. O eleitorado não perdoou e castigou. Os eleitores foram muito claros nas eleições de 2019: queremos continuar com a Geringonça. Mas o BE leu: apertem com eles, porque só assim ganham mais projeção nas próximas eleições. Como puderam observar ontem: correu mesmo bem. 

Não obstante tudo o que aconteceu, verdade seja dita,:  o BE tem sido um dos partidos que mais contribuiu para nivelar os direitos LGBTI+ com todos os outros. Mas isso por vezes não é suficiente. 


Pessoas Amimais Natureza - Estão a ver o que dão os extremismos? Dão asneira. Mudar o mundo, e convencer as pessoas a fazê-lo, só é possível com diálogo. Com exemplo. Com dedicação. Não se faz por decreto. Com imposição. Caso contrário as pessoas irão começar a ganhar repulsa e afastam-se. Veremos se é um partido que se irá fragmentar ou se vai conseguir renascer. 

Esperemos que para a população LGBTI+, continuem com abertura para causar uma diferença positiva e impactante. 


Livre: A surpresa da noite. Pelo menos para mim. Se conseguir moderar-se e abandonar propostas que são "só" tontas, poderá ser um projeto de crescimento e de âmbito europeu. Quiçá, poderá ancorar-se noutros projetos além-fronteiras e constituir-se como um modelo de partido supra nacional. Aguardemos. Porque até pode ser tudo, como pode não ser nada. 

Na capítulo de medidas específicas para LGBTI+, não espero menos que o melhor. 

6 comentários:

  1. Gostei da tua análise, e não te sintas “culpado” (repara nas aspas!) por escrever sobre política. Não tens de agradar a ninguém, somente a ti mesmo.

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    1. Eu sei. Um blogue acaba sempre por ser um ato muito solitário. AHAHA Obrigado <3

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  2. Daqui a 4 anos, ninguém se lembra do chega. Creio que são o lado esganiçado dos homens em relação ao BE. Afinal, saíram de um partido para o outro. Será que eram assim tão diferentes?

    Conheci tanto votante de BE e agora com tanta publicidade gratuita o chega leva o mesmo numero de deputados que o BE. Como é agora? Deixaram de ser BE e votaram em quem mesmo?

    Verdade! Faço questões lixadas e coloco o dedo na ferida mesmo

    Gostei do teu texto, muito bem trabalhado e pensado

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    1. Muitas pessoas que votaram BE e CDU no passado votaram agora no Chega. Mas não só. Também haviam muitos militantes do Chega escondidos em casa.

      Obrigado <3

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    2. True. As pessoas ressabiadas desta escondidas debaixo de uma pedra ou de uma pele de cordeiro necessitavam de um porta-voz e descobriram-no há 2 anos no Chega. As boas notícias é que não tem uma capacidade de crescimento maior do que esta.

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    3. As más, é que muitas pessoas nem se aperceberam porque votaram no Chega. Enfim. Mais literacia e formação é precisa.

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