quinta-feira, janeiro 06, 2022

Coisinhas: autoestima



Eu sempre tive um grande problema de autoestima física. Aliás, eu tenho um grande problema de autoestima física. Passei a vida toda a ouvir "és feio", "tens as orelhas grandes", "não tens rabo", "és demasiado magro", "tens os dentes tortos" ou "és um aborto mal feito", e portanto, sempre foi difícil para mim, gostar de mim. É claro que os "tops", que se faziam no secundário, onde ficava sempre nos últimos lugares da tabela, não ajudaram em nada, e portanto, comecei a ter vergonha da minha figura. Ainda assim, tenho lutado ao longo dos anos, para me valorizar, não só enquanto pessoa, mas como um homem que não seja fisicamente muito desinteressante. Não tanto pelos outros, mas por mim, para gostar de me ver ao espelho, e não achar que devia ter nascido noutro corpo. A verdade, é que gosto muito mais de mim hoje, do que gostava há 20 anos atrás (dito desta forma, até fiquei com medo, porque a idade pesa), embora a queda de cabelo não tenha ajudado em nada. Mas nada é perfeito e nunca será. 

Como é obvio, pertencer a uma minoria, como aquela a qual pertenço, na questão da autoestima física, não ajuda nada. Inicialmente, "quando comecei nesta vida", levei muitas negas (e também dei algumas, verdade seja dita) porque não correspondia ao ideal físico das pessoas com quem marcava encontros. Não posso afirmar inequivocamente, que alguém me tenha dito isso abertamente na cara, ou mencionado algum aspeto do meu corpo que me tivesse deixado melindrado, mas essa cobrança estética existiu em algumas circunstâncias, porque o senti. De uma forma dissimulada, mas existiu. Curiosamente quando viajava para o país vizinho, nunca me senti diminuído em nada, e até era abordado q.b. (já pareço o outro, oh God!), o que me fazia subir um bocadinho o ego. 

Ser gay não é fácil. Não só porque pertencemos a uma minoria, mas porque dentro dessa minoria, existem outras minorias, que discriminam e apontam o dedo. Já recebi mensagens pelo Instagram a dizer "és feio", outras a diminuir-me face a outras pessoas e algumas a insinuar que eu não mereço o que tenho. As pessoas quando querem ser más, são más. E se não cumprirmos os padrões impostos, pior. E eu, absorvo isto tudo de uma forma, que não consigo desvalorizar. E não o consigo, porque isto faz tremer as minhas fundações - que já por si, são frágeis. Porque aquilo que sentimos não pode ser desvalorizado ou atirado para trás das costas. E não. Não acho que esta questão seja fútil. Todos temos que nos sentir confortáveis na nossa pele, implique isso o que implicar. E ninguém tem o direito de nos diminuir neste capítulo só porque acha alguma coisa.   

4 comentários:

  1. Negas todos levamos ou damos, mas de facto existe uma grande Homofobia entre os Gays. Narro isso no meu canto. Há 25/ 28 anos, os gays eram mais solidários uns para com os outros, aos dias de hoje.. Medoooo é tudo Fit e mais não sei o quê
    Talvez os gays gostem de ler o meu canto, por ser um velho de Belém e não do Restelo
    ahaahahahhahahahahahahahahahahahhahahahahahahah

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    1. Não sei, mas a pressão é muito grande para ficarmos inseridos em vários padrões. Estéticos, financeiros, heteronormativos, etc.

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  2. Eu, por acaso, sempre fui bem resolvido fisicamente. Nunca tive complexos. A parte mais aborrecida de ser gordinho é quando a roupa deixa de servir. O bom é que às vezes emagrecemos e volta a servir. =p

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    1. Eu nunca fui bem resolvido nesse tema. Mas também porque as pessoas ao meu redor faziam sempre questão de me apontar defeitos. Mas com a idade, vamos aprendendo a valorizar apenas o que é importante, não significando isso porém, que por vezes não tenhamos recaídas. Não é fácil. Mas também nada é fácil na vida. Exceto o meu colesterol que sobe mais depressa que o preço do combustível, e esse já sabemos... está sempre a subir. :P

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