sexta-feira, novembro 19, 2021

Relacionamentos

Hoje na hora de almoço, com colegas de trabalho, falámos sobre idades e relacionamentos. Dissertámos, como é complicado, pessoas de gerações diferentes, e afastadas entre si por mais de vinte anos, conseguirem chegar a um compromisso estável, sem grandes embates ou disfunções. Apesar de apresentarmos “caso práticos” de terceiros, não há nada que substitua a experiência personalizada de cada um, porque cada realidade é diferente, e só quem está dentro do convento é que sabe – já dizia o povo. Contudo, dentro do nosso grupo de “peritos”, foi unânime a conclusão de que relacionamentos entre duas pessoas, separadas entre si, por várias faixas etárias, tem muita coisa para não correr bem. Ou tinha tudo para correr mal. Ou pelo menos, que a diferença se estabelecesse 15 anos acima ou abaixo. Isto é, se os casos concretos fossem connosco.  

Pessoalmente, se estivesse solteiro, não sei se conseguiria desenvolver um relacionamento eficaz com alguém de 20. Sempre são 21 anos de diferença, e corria o risco que a outra pessoa desconhecesse o programa “Agora Escolha” (tudo agora a pesquisar no Google) ou os desenhos animados do Dartacão. Já nem falo dos grandes êxitos dos Onda Choc ou dos Queijinhos Frescos, que vão ficar a olhar para mim, como se tivesse estacionado a minha nave algures numa azinheira.

Bom, uma verdade inegável: os “anos gay” são diferentes dos anos hétero. Quer em vida, quer em durabilidade de relacionamento. Como dizia um amigo meu, “7 anos de casamento gay, devem equivaler a 14 anos normais”, assim na mesma lógica e sistema dos anos canídeos, embora com o devido desconto em cartão Continente. E isso acontece, talvez porque demoremos algum tempo a aceitar e assumir o que somos, como somos e como querem que sejamos, talvez porque vivemos sempre em lutas interiores ou porque apenas nos “descobrimos” mais tarde. Seja como for, e seja por que motivo for, a nossa cronologia arraste-se um pouco mais que o considerado “normal”.

Portanto, acaba por ser algo perfeitamente comum, que os relacionamentos LGBTI+ (pelo menos a parte da homoafetividade) apresentem imensos pares com diferenças de idade consideráveis, exigindo um esforço adicional às partes, de compromisso, tolerância e capacidade de adaptação. Julgo também, como somos menos, o universo onde os nossos relacionamentos podem desabrochar, acaba por ser mais diminuto, e talvez também por isso, exista uma maior flexibilidade no que à diferença de idades diz respeito. Embora, e como em muitas coisas, para o mundo normativo, esse tipo de relacionamentos possa ser visto de uma forma não compreendida ou até mesmo “anormal”, ou com alguma “piedade”.
 

By the way, eu sou o mais velho na “cena”.    


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