Hoje na hora de almoço, com colegas de trabalho, falámos
sobre idades e relacionamentos. Dissertámos, como é complicado, pessoas de
gerações diferentes, e afastadas entre si por mais de vinte anos, conseguirem
chegar a um compromisso estável, sem grandes embates ou disfunções. Apesar de
apresentarmos “caso práticos” de terceiros, não há nada que substitua a
experiência personalizada de cada um, porque cada realidade é diferente, e só
quem está dentro do convento é que sabe – já dizia o povo. Contudo, dentro do
nosso grupo de “peritos”, foi unânime a conclusão de que relacionamentos entre duas
pessoas, separadas entre si, por várias faixas etárias, tem muita coisa para
não correr bem. Ou tinha tudo para correr mal. Ou pelo menos, que a diferença
se estabelecesse 15 anos acima ou abaixo. Isto é, se os casos concretos fossem connosco.
Pessoalmente, se estivesse solteiro, não sei se conseguiria desenvolver
um relacionamento eficaz com alguém de 20. Sempre são 21 anos de diferença, e
corria o risco que a outra pessoa desconhecesse o programa “Agora Escolha”
(tudo agora a pesquisar no Google) ou os desenhos animados do Dartacão. Já nem
falo dos grandes êxitos dos Onda Choc ou dos Queijinhos Frescos, que vão ficar
a olhar para mim, como se tivesse estacionado a minha nave algures numa
azinheira.
Bom, uma verdade inegável: os “anos gay” são diferentes dos
anos hétero. Quer em vida, quer em durabilidade de relacionamento. Como dizia
um amigo meu, “7 anos de casamento gay, devem equivaler a 14 anos normais”,
assim na mesma lógica e sistema dos anos canídeos, embora com o devido desconto
em cartão Continente. E isso acontece, talvez porque demoremos algum tempo a
aceitar e assumir o que somos, como somos e como querem que sejamos, talvez porque
vivemos sempre em lutas interiores ou porque apenas nos “descobrimos” mais
tarde. Seja como for, e seja por que motivo for, a nossa cronologia arraste-se
um pouco mais que o considerado “normal”.
Portanto, acaba por ser algo perfeitamente comum, que os
relacionamentos LGBTI+ (pelo menos a parte da homoafetividade) apresentem
imensos pares com diferenças de idade consideráveis, exigindo um esforço adicional
às partes, de compromisso, tolerância e capacidade de adaptação. Julgo também, como
somos menos, o universo onde os nossos relacionamentos podem desabrochar, acaba
por ser mais diminuto, e talvez também por isso, exista uma maior flexibilidade
no que à diferença de idades diz respeito. Embora, e como em muitas coisas,
para o mundo normativo, esse tipo de relacionamentos possa ser visto de uma
forma não compreendida ou até mesmo “anormal”, ou com alguma “piedade”.
By the way, eu sou o mais velho na “cena”.