sábado, maio 30, 2020

Opinião [muito própria] - Racismo

Quando me dizem que não há racismo em Portugal, eu olho de imediato para a pessoa. Na maioria dos casos são homens “brancos”, mas também observo algumas mulheres “brancas”. Em comum, têm a sua questão caucasiana em evidência, porque são “portugueses de gema”. Deste universo, se perguntarmos se há machismo em Portugal, também a maioria dirá que não, embora se note que essa globalidade é composta quase em exclusivo por homens “brancos”. E se aos “sobrantes”, perguntarmos se existe homofobia em Portugal, a resposta será também ela negativa, sendo o universo desta vez composto maioritariamente por homens “brancos” heterossexuais – e com “sorte” a resposta ainda terá acoplada com um comentário-tipo “a mim não faz diferença, desde que não se metam comigo” ou “cada um leva onde quiser”.

Sendo eu um homem “branco” (sou mais amarelo, mas pronto), tenho alguma dificuldade em dizer que não há racismo em Portugal, porque ninguém me discriminou pela minha “cor”. Também acho complicado dizer, que não há machismo por cá, porque nunca fui preterido em nada por ser mulher. Agora, se me perguntarem se há homofobia em Portugal, não tenho a menor dúvida que há. Pode ser não numa escala absolutamente aterradora, mas ela existe. Ela está cá, às vezes em pequenas doses, que passam dissimuladas, mas está. Recordo-me perfeitamente, de uma vez que fui a uma consulta, sentir uma mudança de postura no médico, quando a meio da conversa revelei que era gay (porque ele perguntou, e não, ele não me estava a tocar, nem eu estava em roupa interior, nem sequer havia interesse no que quer que fosse, a não ser clínico). Senti um distanciamento abrupto, um olhar estranho e uma “tirada” sobre “vossa comunidade”. A “minha comunidade”. Não sabia que fazia parte de uma “comunidade” até então, e tudo por causa de uma orientação sexual.

Portanto, é fácil dizermos que “não há”, quando não estamos dentro dos grupos-alvo da discriminação. Como em tudo, temos que saber calçar os sapatos dos outros, sentir as dores dos outros, para tentar perceber as coisas. Para perceber o mundo. Porque não é razoável alguém perder a vida porque é diferente, ou porque não se sabe ver além do óbvio. *



*E tudo "isto", por causa da revolta da população no Minesota (Estados Unidos da América), considerando o sufocamento de uma pessoa no passeio, pela polícia por motivos racistas.  

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